quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Tertúlia "Hoje....Falamos de Saloios"





No passado dia 27 de Outubro pelas 17,00 horas realizou-se na Sociedade Musical Odivelense a 27ª.Tertúlia, desta vez a assistência foi de 133 tertulianos tendo sido batido o recorde de presenças.
Para início, Carlos Moura agradeceu os habituais apoios recebidos nomeadamente, do Jornal de Odivelas, Jornal Triângulo, Câmara Municipal de Odivelas, Odivelas TV e do Centro Cultural da Malaposta.
No breve período de informações foram referidos a “Rota do Azeite” e a viagem internacional “Croácia e Eslovénia” a terem lugar, respectivamente, nos dia 13/11/2010 e 26/07 a 02/08/2011, a última o programa está a ser ultimado, espera-se a sua distribuição dentro de dias.
Sobre a Tertúlia propriamente dita foi explicado por Carlos Moura que o tema “Hoje….Falamos de Saloios” para além de servir a palestra da Dra Maria Máxima Vaz


era também um pretexto para homenagear a actriz Beatriz Costa, facto que mais à frente fomos percebendo pelas apresentações de um poema lido pelo António Silva, pelo sketche interpretado pelo Jaime Guerreiro e António Beirão, pelo Grupo Folclórico “Os Camponeses de Odivelas e por fim as “Lavadeiras de Odivelas”, mais à frente cada um deles terá a sua análise.



Iniciando a sua apresentação a Dra Maria Máxima Vaz lembrou que trabalha em Odivelas desde 1971, tem muita amizade pela população de Odivelas, disse-nos, também, que a sua palestra sob o tema “Hoje…Falamos de Saloios” iria abordar, o território ou região saloia, a cultura saloia, o significado da palavra saloio e a esperteza saloia;
As duas fotos anteriores referem-se a tanques comunitários existentes em Caneças.
Os antropólogos e os historiadores que se ocuparam da influência dos muçulmanos na nossa cultura consideram que o “povo saloio” habitava o território que foi o antigo Termo de Lisboa.
A população predominante era de origem moura e, neste território, com o decorrer dos séculos, desenvolveu-se uma cultura com características, hábitos e formas de viver, a que veio a chamar-se “cultura saloia”.



Quanto à origem do vocábulo “saloio”, os linguistas não estão de acordo com a justificação que nos dá Alfredo Mesquita no texto atrás.
Segundo eles e os conhecedores da língua
Árabe, o termo “saloio” deriva de “çahruii”, que se pronunciava “çahroi” e que tem o significado de “mouro que trabalha a terra”.



O facto de a população predominante ser de origem moura, não quer dizer que não houvesse no Termo uma população autóctone. Sabemos que os mouros se fixaram aqui após a conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, em 1147. Derrotados os muçulmanos, que desde o século VIII da Era Cristã eram senhores da cidade, foi esta, novamente, ocupada pelos cristãos, sendo os vencidos autorizados a fixarem-se no território a norte de Lisboa, entre o Tejo e o Oceano, até à ribeira da Ota. Tão saloios eram os habitantes de Sintra como os de Odivelas, Mafra, Loures, Sacavém, Lumiar, Ameixoeira, Benfica ou Caneças. Cultivavam a terra e viviam dos produtos que a terra dava.




Lisboa era um bom mercado para alguns dos seus produtos. Os saloios aprenderam que o sucesso das suas vendas dependia da distância a que ficavam da capital. Se viviam na periferia da cidade podiam cultivar hortaliças para vender, mas se viviam longe convinha-lhes mais cultivar cereais, vinhas, olivais e dedicarem-se ao pastoreio. É que estas ocupações davam-lhes bens de consumo fáceis de conservar e que trariam à cidade com mais garantias de se encontrarem em bom estado. Ao raiar da aurora já os saloios subiam a Calçada de Carriche com os produtos que teriam de vender nesse dia.
Foi essa memória a que nos deixou, num artigo publicado na imprensa, o escritor Alfredo Mesquita:
“Deixem-nos vê-los sempre como ainda os vemos, subindo a Calçada de Carriche, sobre os burrinhos, ambas as pernas bamboleando para o mesmo lado, aberto a todo o pano o enorme guarda chuva de varetas de baleia e o cabo da grossura de um cabo de vassoura, findando em ponteira de reluzente latão, e o forro azul, com sua orla estampada de florinhas brancas; os pés folgados nas botas de grossa sola cosida e cano largo e curto, de couro amarelo com o carnal para fora. Elas, com as saias fugidas da terra um palmo, de beatilhas negras, os casaquinhos de
chita clara, o maior e melhor lenço de ramagens caindo dos ombros em mantelete, cruzando as pontas à frente e entalando-as no cós da saia, o lenço da cabeça de cor unida e barra enramalhada, desatado sempre durante as caminhadas, atado logo, em nó solto sob o queixo, à entrada da cidade. Eles com a justa calça e a jaqueta de bombazina ou serrubeco castanho amarelado, a camisa de cavalim muito branco, a cinta negra ou roxa, de mil voltas, negro o barrete quase sempre, e algumas verde, orlado de vermelho.....



Deixem-nos vê-los sempre, como ainda os vemos, desatrelar o gado das carroças à porta das estalagens e aliviar os burros da carga, pô-los à manjedoura, e depois de terem andado por casas e lojas de fregueses e freguesas, espalharem-se pelas ruas e travessas da sua predilecção, embasbacando diante das montras de ourives na rua Nova da Palma, na tentação irresistível dos cordões e correntes de ouro, apalpando as fazendas penduradas à porta das lojas da rua dos Fanqueiros, considerando a grossura das solas e a flor do cabedal das botas, que só para eles se vendem ali ao Arco do Marquês do Alegrete, ou então lá em baixo, aos Remolares e S. Paulo; parados, de boca aberta, no largo de S. Domingos, a entreter-se com o palavreado dos charlatães que tratam de vender os seus sabonetes para tirar nódoas e os seus frasquinhos de remédios contra dores de dentes, e que toda a gente cai em comprar, menos o saloio!...”
O autor pinta-nos aqui o quadro de um dia do saloio em Lisboa e consegue, com esta descrição, dar-nos alguns traços do seu temperamento, do seu trabalho, da sua forma de vestir, dos seus interesses. Esta realidade está situada no tempo – a transição do século XIX para o século XX. Depois disso muita coisa mudou. Depois disso arrancaram-se vinhas e olivais para aumentar as hortas, que invadiram também as terras do pão. Lisboa precisava de mais verdes porque a população tinha aumentado e as hortas tinham diminuído, e precisava também de mais leite. E foi nestas produções que apostaram os saloios desta várzea.



Hoje, fora do perímetro urbano da capital, as terras que já foram hortas, olivais, vinhas, pomares, searas, pastagens, estão a ser invadidas pela construção urbana. Os domínios do saloio estão transformados em bairros da capital, e da área metropolitana.
A cultura que se desenvolveu no Termo, pode diluir-se ou mesmo desaparecer das memórias destas populações e se
não tivermos interesse em guardá-la, desaparecerá num futuro muito próximo.
Sobre o “bailarico saloio”, a Dra Máxima disse-nos que não tem nada que saber, ou seja “é andar com um pé no ar e outro no chão a bater”;
Relativamente ao significado da palavra “Odivelas”,
Foi-nos explicado pela Dra Máxima que a palavra “Odivelas” se compõe em duas palavras árabes: "Odi" que quer dizer “rio” e "belaa”, que significa “remoinho”.
A versão do “Ide” “Velas”, dito pela Rainha Isabel é mais do carácter brejeiro não passa de uma “historieta”.



Seguiu-se o António Silva que declamou o poema da sua autoria, intitulado “Quem eram os Saloios?”, com as suas palavras lembrou-nos que os “saloios viviam nos campos, onde trabalhavam em liberdade, eram descendentes dos moiros, que foram expulsos da cidade” e mais à frente, “traziam roupa suja da cidade, para as saloias lavarem nas fontes de Caneças, faziam depois grandes trouxas que transportavam nas cabeças” e por fim” a esperteza saloia era feita toda ela, de muita ingenuidade com que o saloio se defendia dos espertalhões da cidade”.


Seguiu-se o sketche interpretada pelo Jaime Guerreiro e Antónia Beirão intitulada “O Saloio da Malveira e a Lavadeira de Caneças”, os quais se apresentaram devidamente “caracterizados”, contaram-nos a história de um saloio desejoso de arranjar “companheira” o qual faz a corte a uma “lavadeira de Caneças”, durante a actuação deste par fomos presenteados com hilariantes situações que acabam em “casamento”;
A colaboração do Grupo Folclórico “Os Camponeses de Odivelas” foi dada através da sua actuação demonstrada em meia dúzia de danças e cantares tradicionais portugueses, todas muito bem aceites pelos presentes, merecendo grandes e saudáveis ovações.







Por fim e após uma renhida negociação, na qual esteve em cima da mesa um elevado cachet, para trazer o Grupo Etnográfico “As Lavadeiras de Odivelas”, regressadas, na véspera, a Portugal vindas da República Checa, a sua actuação relacionou-se com a homenagem que a organização das Tertúlias quis fazer à actriz Beatriz Costa, a qual através da sua interpretação no filme “A Aldeia da Roupa Branca”, retratou muito bem “os saloios”, nós na Tertúlia cantámos e encantámos com a banda sonora do referido filme, ainda houve tempo para estender a roupa na corda, destacando-se as ceroulas trazidas pela Lurdes Martins, que provocaram a risada geral, bem como, “a saloia de 2010” apetrechada de máquina de lavar roupa, representada pela Aline Rocha.









As interpretações estiveram a cargo das nossas amigas que carinhosamente são tratadas pela “prata da casa”, Fernanda Salvado, Camila Teixeira, Patrícia Benitez, Aline Rocha, Fátima Dias, Guida Ferreira, Antónia Beirão, Lurdes Martins, Aidé Costa e Mila Gama, todas acompanhadas de adereços “riquíssimos” nomeadamente, lenços e trouchas a condizer com o perfil de saloia.
O evento terminou com o habitual sorteio de livros, CD´S, DV´S e Convites para espectáculos do Centro Cultural da Malaposta.
A organização das tertúlias aproveitou a presença da Berta Franco, Guia que acompanhou o Grupo na viagem à Suíça e Áustria para distribuir Certificados da referida viagem.
Para o próximo mês, dia 24, o tema será “A Arte de Comunicar”, o Convidado é o Dr. João Coelho dos Santos.




O texto sobre o tema da tertúlia teve o apoio técnico e histórico da Dra Maria Máxima Vaz, à qual muito agradecemos.

2 comentários:

Patricia Benítez Márquez disse...

Boa tarde Carlos,

O texto e as fotos falam por si...!!
Nos recorda exactamente o que foi aquela tarde inesquecível e cheia de alegria e boa disposição. Eu diverti-me imenso...!!
Obrigada por mais uma Tertúlia!!
Parabéns!!!


Quando há camaradagem e amizade, tudo é possivel...!!
Acho que todo o Grupo também está de parabéns...

Um abraço e até a próxima Tertúlia!
Patricia

Ao abrigo da claridade disse...

Boa noite Carlos:

Que bom foi reviver a história desta nossa área habitacional, com esta tertúlia tão bem organizada!

Adorei participar! E venham muitas mais para podermos mostrar ao mundo,aquilo de que, todos juntos, somos capazes.
Parabéns pela tua coragem, pelas tuas ideias...

Beijinho e até uma próxima.

http://margui-morgadinha.blogspot.com