terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tertúlia "Quintas e Hortas em Odivelas"

No dia 26 de Março de 2008, a Palestrante convidada foi a Historiadora Dra. Maria Máxima Vaz que iniciou a Tertúlia informando-nos "que a utilização agrária do solo, está generalizada e aceite a ideia que, no concelho de Odivelas, e em outros em torno de Lisboa, predominavam as hortas, mas isso só se torna realidade nos finais do século XIX, princípios do século XX.
Segundo estudos de um economista alemão, Johann Heinrich Von Thunen, a utilização do solo em volta das grandes cidades e os tipos de culturas faziam-se em anéis concêntricos. Partindo do centro para a periferia, no primeiro anel praticava-se horticultura e criava-se gado leiteiro; o segundo anel destinava-se à silvicultura, pois o mato e a lenha eram o único combustível e, por isso, um bem de consumo de primeira necessidade; no terceiro anel praticava-se uma agricultura intensiva, num sistema rotativo; no quarto anel, fazia-se agricultura de pousio e, seguidamente, no quinto anel, agricultura de afolhamento trienal; finalmente, no sexto anel, criavam gado em regime pastoril.

Perante esta conclusão de Von Thunen, a Dr.ª Maria José Lagos Trindade e o Doutor Jorge Gaspar, quiseram saber se se confirmava no caso do nosso país, situando-se no século XIII e tendo como cidades referência, Lisboa e Sintra. Na sua investigação verificaram “uma nítida regularidade na utilização do espaço agrícola em torno da cidade de Lisboa.” Assim, as hortas situavam-se no perímetro da cidade, nos terrenos onde veio a construir-se a Cerca Fernandina ou por ali próximo. E, supostamente, os verdes produzidos nestas hortas, eram suficientes, na altura, para abastecer Lisboa.
Seguiam-se-lhe as vinhas e olivais, tendo ganho muita fama o vinho do termo. Para lá das vinhas e dos olivais, encontram-se referências a casais, herdades e granjas, que eram unidades agrícolas onde era necessário produzir para consumo próprio e para o mercado. Os bens destinados ao mercado, tinham sido seleccionados, pois como eram produzidos a uma distância, já considerável, de Lisboa, nem todas as espécies serviam. Só as não perecíveis se destinavam ao mercado da capital e essas seriam, certamente, “ os cereais e os derivados da criação de gado: carne, queijo e, talvez manteiga,” na autorizada opinião dos referidos investigadores.
Isto tinha uma justificação – as hortaliças e o leite tinham de se produzir próximo do consumidor, porque são bens facilmente deterioráveis; não podiam vir de longe, pelo tempo que demoravam a chegar.
Também o facto de a silvicultura não vir mencionada no segundo anel, tem uma explicação – é que toda a lenha consumida em Lisboa vinha da margem Sul, de barco, pelo que podemos dar outra ocupação ao segundo anel.
No mapa que estes autores traçaram, o concelho de Odivelas fica no terceiro anel, definido como território de casais, granjas e herdades e os produtos que vendíamos a Lisboa não eram as hortaliças mas sim o pão, a carne e o queijo, o vinho e o azeite.
Só com o aumento demográfico se foi dando a mudança, porque a necessidade de habitações exercia grande pressão sobre os solos da periferia da cidade, onde ficavam as hortas, que acabaram por ser empurradas para o segundo anel, passando as vinhas e os olivais para o terceiro e assim sucessivamente. Antes de as hortas cá chegarem, já cá tinham tomado assento herdades, casais e granjas, e só no tempo dos nossos avós, quando a construção urbana, em Lisboa, cresceu para os planaltos setentrionais, se instalaram, aqui, as hortas de que se conservam tantas memórias. Nos livros de registo de propriedade desses casais, granjas e herdades, não encontramos o termo “horta” mas sim o termo “quintal”. Parece-me, salvo melhor explicação, que o quintal era parte integrante de cada uma dessas propriedades e designava o local onde se cultivavam os produtos para auto-consumo. Além dos quintais, aparecem também referidas “ vinhas, olivais, pomares e terras de semeadura”.
Mas esta evolução não é assim tão simplista e radical. As mudanças não se verificavam em todos os lugares nem ao mesmo tempo. A vinha podia permanecer ao lado de uma pastagem ou de uma seara e as herdades e casais tinham, além das culturas em sistema rotativo ou até de pousio, vinhas, pomares e olivais. A utilização do solo seguia, tendencialmente, aquela evolução.
O objectivo da Historiadora foi apenas chamar à atenção para o facto de a realidade estar muito para lá das nossas memórias e termos a noção que nem sempre abastecemos Lisboa dos mesmos produtos. Os nossos tetravós ou os nossos bisavós, não fizeram os mesmos trabalhos que os nossos avós e pais. As nossas memórias vão até ao tempo das hortas, mas as gerações mais recuadas, cultivaram o vinho e o azeite, criaram gado e lavraram, porque no seu tempo, eram esses trabalhos que lhes davam rendimentos. "
Após a intervenção da Dra Maria Máxima Vaz, houve tempo para uma troca de impressões, através do qual a Convidada respondeu a várias questões colocadas pelos Tertulianos.
Finalmente foi apresentado, pela organização, das Tertúlias um pequeno trabalho relacionado com a “Arca de Noé Verde”, o qual em termos resumidos refere que o homem sempre teve a preocupação de desenvolver a agricultura, naquela época para sustento próprio e, nalguns casos, para venda em Mercados. Em pleno Século XXI um grupo de Cientistas resolve construir a “Arca de Noé Verde”, destinada a proteger sementes alimentares. A criação da “Arca de Noé Verde” nas montanhas de Svalbard na Noruega, visa proteger a diversidade vegetal Mundial, que tem sido ameaçada pelas Catástrofes Naturais, Guerras e Alterações climáticas, o objectivo é salvaguardar a herança genética global, a sua construção ficou ao cuidado do governo Norueguês.
O Banco de Svalbard, não é o primeiro armazém de sementes do Mundo, existem, pelo menos, outros 1500 espalhados pelo Globo, cujas vulnerabilidade têm vindo ao cimo, por exemplo, o Banco de sementes no Iraque e no Afeganistão, foram destruídos, o espólio do laboratório de Recursos Genéticos Vegetais das Filipinas desapareceu, arrasado por um tufão, há dois anos.
Daí a tentativa de reunir, agora, uma colecção completa de sementes. O depósito de Svalbard na Noruega pretende ser o mais resistente a ameaças, como as catástrofes naturais.
O cofre, onde as sementes se vão encontrar, tem cerca de 130 metros e foi construído dentro de uma montanha gelada no arquipélago noruguês de Svalbard e está preparado para resistir a um terramoto ou a um ataque nuclear e pode armazenar 2 biliões de variedades de sementes.
Em relação a Portugal, várias dezenas de sementes portuguesas, guardadas há décadas no BANCO DE GERMOPLASMA em Braga, vão ser preservadas na “Arca de Noé Verde”, deste modo, o património Nacional, de sementes, fica devidamente assegurado, para além de que o nosso referido Banco armazena já todas as variedades de milho, leguminosas e frutas de Portugal.
Os Países interessados podem depositar sementes, reservando-se o direito de retirá-las consoante a sua necessidade.
Entretanto na cerimónia inaugural que ocorreu no passado dia 26/02/08, foi depositado um contentor de sementes de arroz proveniente de 140 Países. Só para se ter uma ideia, do interior do frio armazém há um extenso túnel com 120 metros de comprimento, o qual desemboca no coração da montanha e é composto por três câmaras de 1500 m3.
É pois neste lugar, a mais recente morada de sementes de todo o Mundo, e quem sabe se alguma não saiu de Odivelas das Quintas, Hortas, Olivais e Pomares que a Dra Maria Máxima Vax nos falou há minutos atrás.
Para terminar houve o sorteio habitual de CD´S e Livros, a Livraria/Papelaria Paminu de Odivelas, ofereceu-nos dez livros escritos pela Dra Maria Máxima Vaz e cujo título é “Uma Viagem ao Passado” e cinco vales de desconto ofertados pela Best Travel de Odivelas.

Sem comentários: